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O Romance de Sanan




        Conheci manhãs com paladar de sol e o restante do dia com sonhos de terra abençoada. Segui para lá, onde a realidade vestiu-se de fantasia. Onde ecoa a exaltação do encontro anunciado pelas águas que há tanto escuto cantar na fenda de algum lugar, ou talvez esteja mais acima, no alto da verde montanha, ou no céu modelando a arte que sempre existiu, uma procura incessante enganando o vazio regando a ausência. Fui sim, decidido que seria importante desbravar novidades, eis que veria o meu sorriso encontrar-se com a vida casada com as realizações possuídas de prazer, uma sensação alegre talvez. Sim, cruzei os mares acreditando no esquecimento temporário na realidade dos meus dias, cheio de poeira sólida freando os meus nobres atos inspirando ousadia. Levantei o dia e dancei com a noite. Acordei num romance e nunca mais fui o mesmo, pois ganhei novas experiências e o necessário para desvendar os limites do coração. Fuxiquei coisas mais em minhas qualidades na pintura do mais belo poema, a emoção mais forte, e fui envolvido pelas dunas de sedução beirando o mar de improvável fim.

        Antes de embarcar, encontrava-me sempre no mesmo casulo sem me transformar em nada. Arrastava-me pelo concreto da vida repetitiva, todavia, planejei a quebra do marasmo e furei as ondas soprando o meu barco em direção a espera mais marcante. Segui motivado, cercado de liberdade e distrações querendo influenciar o destino de um homem aventureiro. O meu nome é Sanan. Apenas eu e mais dois amigos, Manu e Dimas, chegamos à ilha chamada “Filhos da Terra”. Neste verão estávamos de férias e resolvemos arriscar novos ares. Fomos recebidos por habitantes simples e curiosos, um povo humilde, alegre, simpático e pobre, descendentes de índios e escravos. Queríamos desfrutar de novas descobertas e aproveitar a solteirice no lugarejo.

        No primeiro dia acordamos cedo e seguimos pelas ruas, sem saber bem o que fazer e para onde ir. Seguimos alguns habitantes e fomos parar na beira de um lago de águas salgadas e cristalinas chamado “Descanso das Águas”. Berço de lazer onde o povo local e seus visitantes banhavam-se e deliciavam-se com o forte sol, e na beira, sob uma cabana de sape, uma banda musical tocava composições que pareciam ser uma mistura de salsa com reggae; foi quando conhecemos a bela Diantara, que significa: “A nuvem e o Sol”, com seus 22 anos e pele negra, revelou a alvorada no azul de seus lindos olhos, e disse que estávamos na morada da “Mãe Terra”, um pedaço de solo envolvido por encantamentos mágicos.

“ Tu homens da terra escrava da ilusão, que vens de longe e pisas aqui onde vive a serpente de luz despertada no planeta água, verás a força da terra subir pelos teus pés e ativar a raiz de tua pureza, então homens, verás o teu espírito mais puro transcender e enxergar as coisas desta ilha, é a visão do verdadeiro amor, e assim, pequeno pena, nunca mais serás o mesmo; encontrar-se-á com a tua essência em comunhão com o Grande Espírito e o coração da Mãe Terra; descobrirás formosuras e o caminho que eleva alma presa as coisas pequenas; a partir de agora também és um filho da terra; ninguém chega aqui por acaso e sai sem despertar algo de bom.”

Assim disse Diantara demonstrando o seu alto grau de espiritualidade, informando-nos que essas palavras foram ditas por um sábio curador xamã da ilha, o “Grande Pena”.

        Conversamos um pouco e riamos sem desconfianças, num carinhoso desenrolar de pensamentos culturais, numa ilha onde todos falam a nossa língua, e outras oriundas de seus ancestrais. Depois Diantara serviu-nos de guia turístico, esclarecendo que primeiramente deveríamos conhecer a “Morada da Mãe”, e foi o que se sucedeu, andamos por cerca de 30 minutos dentre ruas de barro e trilhas por entre as matas; rompemos o medo de cobra admirando a inocência no canto dos pássaros junto à conversa da natureza, e chegamos ao éden central, uma enorme cachoeira no centro do bosque. Havia pedras beirando as águas até a parte alta da cachoeira, e nestas pedras artistas de outrora esculpiram estátuas de divindades da natureza cultuadas na ilha, e lá no alto, havia uma grande imagem, Diantara disse se chamar “A Mãe”, a Deusa da terra, da cachoeira, do sol e do arco-íris em uma única manifestação. Era feita de terra, pelo menos o material utilizado simbolizava a terra; e enrolada ao seu corpo havia a imagem de uma serpente de cor verde. A Deusa olha para cima com as mãos erguidas, segurando a imagem de um sol. A representação da união, da cura vinda do centro da terra, da força do fogo divino motivando a nossa ascensão; a conexão de todos os seres vivos com o todo. Neste estado de consciência todos somos irmãos; um punhado de terra, uma erva, uma abelha, uma arvore, um animal... É a Mãe Terra abraçando os sagrados do coração; o grande espírito que a todos iluminam, queimando as imperfeições e sutilizando os esforçados em se melhorar com os pés na terra. A serpente representa a força do centro da terra, o lampejo da sabedoria divina, a energia cósmica feminina que originou a criação; é a luz em cada ser, em cada natureza, a ponte entre o céu e a terra, o elo entre a vida, a morte do ego e o renascimento, o arco-íris vibrando os sete raios divinos, a pureza, a renovação e a capacidade de gerar amor. É a continuidade de todos os ciclos, a mais poderosa força da Mãe Terra ao alcance das mãos, uma Deusa que doa e constrói um estado divino em nossos corações, a voz da essência, a iluminação dos filhos desta terra.


        Depois das lições de espiritualidade, deliciamo-nos com o aroma singular na mistura de gente humilde e a presença de uma história na alma de tanta gente. À noite fomos à rua mais movimentada, era noite de Xangô, a sabedoria do universo, o rei dos raios e do trovão, do fogo, da razão e da justiça divina, assim proferiu Diantara. Dançávamos ao som de musicas que pareciam exaltações a natureza do local. Animação, tambores, chocalhos, flautas, gente bonita, cantos e danças de roda. Fomos contagiados pela beleza e o costume do local. Nesta noite o meu amigo Manu conquistou Diantara, beijando-a num princípio de intimidade. O danado chegou primeiro!


        Ficamos hospedados em uma pensão em frente a um deleitoso rio, sim, havia um rio naquela ilha cercada de águas salgadas, era a continuidade proveniente da “Morada da Mãe”, a cachoeira central. Várias hospedagens pequenas havia naquela mesma rua com jardins de ponta a ponta, estávamos na Rua das Borboletas, onde o vento desliza mansinho e o destino reunia almas afins. No primeiro dia resolvi conhecer um jogo chamado “Icatróca”, um passa tempo do povo, costumavam reunirem-se para jogar no saguão de uma pensão ao lado. O jogo ocorria em uma mesa com pequenas bolas, onde o jogador tinha que lançar as bolas nos buracos feitos na mesa, foi quando um encanto invadiu-me; deparei-me com a pele morena jambo e seus cabelos longos, 24 anos de idade, um olhar de estrela e um sorriso a minha espera. Uma voz acertou o meu peito inebriado de fascinação, era o começo de uma paixão:

- Oi, o que deseja? Eu me chamo Tamayá!
- Tamayá? O que significa?
- Significa “A alma da mulher cativante habitada na natureza do amor”
- Prazer, eu me chamo Sanan!
Tamayá era nome daquela suavidade pairando sobre o felizardo balcão. Vi a minha insignificância flechada por uma índia num sentido real, existindo tudo que é belo e profundo. Vi a minha imaginação sonhar que encontrou a poesia em forma mulher exalando “Tamayá” com versos de silêncio num romance diário. O tempo era curto, e se tornou uma brasa ardente lutando contra a sofreguidão. A cada minuto uma queimação no peito. Os dias seguidos apagavam as chamas de possibilidades, e acendiam as incertezas. Perdi a razão e encontrei uma longa ponte à frente diante de meu estado entre fugir, calar ou arriscar.


        Retornei à pensão de Tumayá, e novamente lá se encontrava a amada cativante, olhava-me como se existisse uma porta para o um novo mundo em meu gesto. No sétimo dia, na véspera de meu aniversário, resolvi arriscar, disse a Tumayá que iria almoçar pertinho dela, respondendo-me em sua alegria contida que não havia mais carne alguma, pois o almoço daquele dia estava com a quantidade certa para os clientes costumeiros. Expliquei que não como carne, apenas arroz, feijão, um pedaço de seu sorriso misturado com um tiquinho de sua simpatia na salada colorida de sua beleza, e gotinhas de seu tempero de mulher cabocla. Tumayá sorriu e fez com que um simples momento movimentasse os átomos de desejos que se tornaram um conto, e seguiu feliz visando preparar o almoço. Neste dia conheci os seus dois irmãos, Kafuro e Mata. Quando o assunto era a sua irmã, os dois eram bastante ciumentos, e perceberam a minha aproximação.


- Quem chegar perto dela vai ver-se comigo!
- Tumayá, estou de olho, não apronta!

       Eu aproveitava o período de ausência dos irmãos que trabalham como pescadores, para tentar conquistar Tumayá. A cada dia eu e ela não agüentávamos mais, até que na manhã do oitavo dia, no início da Rua das Borboletas, esbarrei com Tumayá, que segurava uma cesta de frutas. Firmei meu peito a sua frente e dei um basta. Com ternura e libertação extravasei o meu desespero ao seu encontro. Tumayá ficou parada e tentei beijá-la em vão, eis que desviou sua boca. Segurei-a pelos braços e soltei a canção do amor, mas novamente Tumayá não se entregou e desesperada disse:

- Eu não posso! Os meus irmãos são como pais para mim, e se eu ficar com você, um desastre irá ocorrer, vão pensar que sou uma mulher da vida, e que estou entregando-me para um viajante qualquer. Eu não posso Sanan! Retorne em paz; regresse a sua terra. Amanhã você vai embora e como ficará o meu coração? O meu choro ficará preso neste paraíso sem teu mundo? Caminhe na realidade Sanan!


- Não posso meu amor! Não conseguirei viver sem seu cheiro, sem a sua respiração, sem a sua atenção e ternura, sem as manhãs, sem o seu sol, sem o luar que adormece mais tarde quando escreve em sua agenda o nosso amor. O que será de mim sem a janela onde aguardo pontualmente o surgimento da alma mulher, essência e poesia? Um prazer confinado em meu desejo sustentado por ti que me encontraste sem acaso nos pavilhões de minha solidão, agora em terra firme. Tudo mudou, encontrei o meu lugar em ti, e serei o teu primeiro encontro, o teu primeiro amor, o teu primeiro beijo, e o último adeus, pois sem ti eu seria a dor, a seca e a fome deste karma, que para mim tornar-se-á a nossa vida. Muito nervosa e emocionada, Tumayá deixou cair o cesto de frutos no chão e agachou-se para pegá-lo, ao tempo em que eu também abaixei junto a sua boca e tentei a investida do primeiro beijo, entretanto, foi em vão, Tumayá saiu correndo e fugiu para o interior da pensão, fechando as portas.


        Ao anoitecer, no dia de meu aniversário, resolvi respirar um ar puro e rezar para “A Mãe”, já que no dia seguinte iria partir desta ilha. Fiquei sentado num banco da praça central e fechei os olhos para meditar. Minutos depois um garoto aparentando ter uns oito anos de idade surgiu a minha frente, chamava-se Mandinho; avisou-me que alguém queria conversar comigo na taberna do Pai Zulu, localizada na própria Rua das Borboletas. Assim que cheguei ao local, várias pessoas me receberam ao canto de “Parabéns pra você, nesta data querida, muitas felicidades e muitos anos de vida...”. Neste momento a minha tristeza foi amenizada com os abraços e as homenagens dessa gente simples que conheci na ilha, Manu e Dimas estavam presentes, contudo, eu não imaginava o que viria em seguida quando Diantara me chamou no canto e disse:


- Sanan, este empadão de palmito foi Tumayá que fez para você, ela pediu-me para eu trazer.
- Obrigado Diantara!
Fiquei sem reação, e só pensava em uma coisa, encontrar Tumayá, então corri pela rua em direção a sua residência, foi quando escutei um assovio na beira do rio. Cheguei perto para checar, e lá estava ela, Tumayá, linda como nunca. Vestia um vestido azul celeste de tecido fino, e calçava uma sandália branca.


- Oi Sanan, hoje e para toda a eternidade serei sua!
Segurei-a em meus braços e finalmente a beijei, com as bênçãos do céu estrelado e da lua cheia fomos contemplados pela “Mãe” com essa união, uma história de amor ardendo de desejos em uma esteira forrada em um estábulo abandonado. E acordamos com o ar do êxtase colorido de prazer. Neste dia, na parte da tarde, despedi-me de todos os amigos conquistados, beijei Tumayá e disse: Não se preocupe, tu és a beleza de tudo que cruzaste em meus olhos, serei teu destino, o retorno e o casamento. Hoje estou partindo, mas não deixo um adeus, apenas uma saudade a espera do amanhã selando a união predestinada, e dar-lhe-ei dois sonhos realizados.

(Carlos Junior)

Ofereço a Você




Trago palavras de um ser afetuoso.
Trago gestos de um ser declarado nas entrelinhas
deste novo tempo renascido em minha alma.
Trago palavras um dia sonhadas na senda pretérita, agora encontrei você.
Trago a voz na fluidez de meu amor, agora só eu e você.
Trago a fronte de minhas buscas, e levo a ti begônias novas
renascendo lilases no real sentido de suas buscas.
Agora somos um.

Trago presentes para o meu amor.
Sejam versos, sejam objetos, sejam chocolates escondendo o nosso prazer.
O que importa é que haja a expressão sincera de meu amor.
Agora cresceremos juntos.

Trago o que precisas para nos ligarmos à divina providência
falando de reencontros e rumos no vazio de tua indecisão, agora és a tua certeza.
Trago o culto aos nossos momentos na banheira de nossas carícias inspirando um plano vivaz,
acalentado de ternura onde a trilha certa é saber amar-te minha linda Lu...

(Carlos Junior)

Palavras



Só quem entende o poder das palavras
consegue ser um canal digno das inspirações
transcritas para o papel.

Só quem apanha os encantos das palavras
descobre que essa transmissão
ultrapassa o limite da matéria.

Só quem escreve conhece esse mundo diferente
onde o refúgio da mente encontra refazimento.

Não é preciso descrever as palavras
já que a própria se encarrega de esclarecer um pensamento.

Palavras que fogem pelas bocas
envenenadas de ante- poesia, um fel não vislumbrado por mim.
Palavras ensejando confortar
sequiosos de amor, essas sim me tornei porta-voz.
Sabedor que só há um caminho, aquele que leva
as palavras com caule de felicidade.

Hoje são essas palavras que atravessam o limiar
da ocasião servida às palavras, e pretendo continuar
assim junto a natureza que não foge de minhas palavras.

(Carlos Junior)

Parecer do Presente



Fiz por merecer um presente, direi como foi.
Levantei-me da preguiça carinhosa
segurando o meu sono único num moinho sapiente.
Girando...Girando
E rolando um pouco mais
em uma cama saliente e coberta pelo meu corpo curado.
Sonolento fui empurrado do cansaço, e no rádio de minha ânsia, ouvi as
memórias na embriaguez
dos resquícios de uma antiga intenção.
Encarnada em forma de presente.
Não sabia o que viria.
Reclamações da fé durante um café
com porções mágicas em uma manhã carente.
Uma força dos pés a cabeça desatou as minhas dúvidas
e resgatou o que poderá ser um novo caso de amor.

Fiz diferente, ausentei-me do dia e fugi pelas noites
abraçando gentes de minha tribo.
Maluquetes e brothers que ainda vagam
despreocupados falando de risos
cheios de histórias em quadrinhos
com arranjos de freestyle
e dança black para todas as cores e ritmos.
Olho para mim no olfato de meus suspiros percebendo coisas
iguais, diferentes, belas, culturais e indefinidas.
Uma expressão em meu semblante verdadeiro e justo consigo.

Não irei esquecer deste lumiar, como outros e seus cardápios.
Se estou, as pessoas olham.
Se acaricio a minha alegria, os anseios femininos
perguntam qual é o meu nome.
Se não vou, cresço onde estiver.
Se fico, alguém paquera à energia interior.
Se fujo, o júbilo segue no brilho especial
que há muito ouso permanecer.
Só assim brinco com a minha serenidade na poesia crônica.

Cansei de pensar no futuro e esquecer a beleza do aqui e agora.
Cansei de ser cego...
E não ver quem realmente aspira a minha fragrância.
Cansei de ouvir promessas e não ver atitudes...
Somente brincadeirinhas parecendo esconde esconde.
Cansei de arriscar em vão...
Só assim durmo bem e anoiteço em dias diferentes
onde não deixo de ser quem eu sou, um novo horizonte.
Um amor que atrai um mundo, menos as paixões fracassadas.
Essas eu presenteei um arquivo chamado lembranças.
Por isso dei um basta, já não sou mais incerteza.
Prefiro amar o orbe que chega aos meus pés...
Fruto do merecimento em minha mesa.
Vou me encontrando...
E segurando a minha caneta.
Hoje foi um presente que não fala de um afago específico.
Mas sim dos desafios em aceitar
ás dádivas sobre mim, deixados pelo rastro de um cometa
chamado presente, deixarei esta vela acesa.


(Carlos Junior)

Nosso Tempo




Foi-se o tempo em que tudo era fim, acabado, e sem recomeço.
Foi-se o tempo em que estive ausente...
Sem esquecer-me do início onde a vi, agora sou um amante
distante em sua estrada, e na liberdade coberta de experiências.

Ficaram às lembranças e segurei-me em sua primavera.
Caí e fui mais forte, não sei disfarçar, foi-se o tempo
em que parei de te amar para nunca e nunca mais
encerrar o que não entendo... 
Pois viverei no sopro dos tempos...
Um fenômeno abstrato subsistindo em meus sentidos.
Uma sensação divina a cada
presença do amor não se contendo.
Ressurgindo em mim, ás saudades
nos ventos acariciados pelo luar sereno.
Um universo sábio

entre essa distância, e a particular união cósmica.
O aroma dos preciosos tempos. 

(Carlos Junior)




Os Animais Também Amam



Minha ferida lebre. 
Minha angustia selvagem. 
Minha febre cresce. 
Minha alegria domesticada.
Minha páscoa arrancada, e seu coelhinho mais branco. 
Uma cilada, um apetite cruel, um caçador, um cozinheiro,
uma armadilha, e o curral dos maus pressentimentos. 
Meu natal entediado de morte  
e o seu com celebração a pureza do nascimento. 
Frigorífico e bandejinha aos préstimos da indiferença. 
Pálida pele ancorada e pobre couro defumado. 
Penas Franciscanas manchada de mágoas e coças. 
Pelos encardidos de melancolia numa eternidade penosa. 
Meu último vôo pássaro. 
Meu gemido abatedouro.  
Uma manhã cinzenta, meu filhote, e o frio adeus. 
Meu veneno ferve na casca dessa gente. 
Minha carne quente.  
Minha dor frutifica obesa 
e submissa ao prazer acostumado 
dilacerando a perdição de uma presa. 
Vim para ser o almoço, a janta amordaçada 
sem alma e sem risos, não sou humano,  
mas sei quem sou, eis que ainda respiro. 
Sou pequena sim, vim para crescer, sobreviver e morrer 
indefesa alegrando seu estômago 
com a dor retida no ventre de minha alma animal.

Meu lugar no seu lugar. 
Seu lugar não é somente seu. 
Deixa-me ficar! 
Deixa-me cuidar de minha espécie saboreada 
pelo banquete animalesco e carnívoro. 
Deixa-me sonhar igualzinho a vocês! 
Já me chamaste de suicida, por viver dentre vos. 
Já tiraste minha vida, num pranto sanguinário.                 
Furaste meu peito e dissecaram a minha carne 
inflamada pela violação de minha individualidade. 
Parece que vim para ser comida, uma mentira desse tempo.

Vivem sabe como? 
Vivem matando os rebanhos, comemorando os lucros 
na ousadia ignorante exterminando minha geração. 
Vim para cantar, miar, latir, aquietar, bradar, voar e produzir. 
Sou estimação, sou encanto, sou do mato e sou da prisão. 
Sou vazio no chão, sou instinto, sou raiva seladas,
sou carinho e sou asas cortadas. 
Vim para sorrir, chorar, pedir, retribuir e evoluir na união. 
Viemos para admirar o que não pertence a vocês. 
Somos um, imperfeitos no todo. 
Vim para ser o que o homem foi um dia. 
Sinto pena e estou triste, quero um dia ser gente 
para nunca mais beberem o meu sangue. 
Quero anunciar o novo mundo 
onde todos somos irmãos. 
E conhecerão a nossa força, o nosso animal de poder. 
Se Deus é pai, com certeza não é humano, é a vida em ti, 
é a vida no passarinho, no pintinho, no peixinho, no leãozinho,  
na vaquinha, na serpente, e em tudo que há na criação. 
Não peço muito, quero um dia à paz na família animal irracional.

Sabem?O Deus que há, tu já não conheces mais. 
Adormece no coração, e sorrir no espírito desperto. 
Papai do céu é a inocência de uma criancinha amando os bichinhos ao lado. 
E se gosta de nós, também compreende o seu atraso. 
Por este amor, favor deixe-nos andar
pelo mundo das esperanças 
e voar pelos tempos com respeito e a sua confiança.
Queremos viver e amar também!

(Carlos Junior)

Pégasus


Pégasus, simbolo da imortalidade,  do animal de coração puro, da elavação aos céus, da liberdade da mente e suas viagens pela criação e a arte, a inspiração poética. Traduz a capacidade de expandir a mente e guiá-la na direção que quisermos.   

Ventos riscando o firmamento.
Rédeas de ouro freando as impurezas.
Um rastro cadenciando estrelas
e compondo antologias improvisadas,
e cá em baixo uma mente luminescente liberta e inspirada...
É o desfile do cavalo alado na criação
fomentando os desafios da consciência leve e alada. 


Entre o pensamento e a idéia, repouso no meio. 
Sei que estarei seguro no espaço 
onde tudo vejo e resolvo
escrever sem nada saber. 

Se ao redor existem
ruídos de vozes que não se calam,  
o meu comportamento busca
os acontecimentos na lingüística causal, 
uma feira de pensamentos 
concorrendo ao Oscar da sugestão atual. 

Se existe liberdade
no silêncio em meu refúgio, 
na natureza filosófica
em meu sossego temporário, 
desencanto um pouco mais
a falar de esconderijos 
na mente guardando reflexões,
um baú de promessas desarquivadas sem honorários.

Se existem dificuldades em cada respiração, 
confesso que estou ligado a esta família 
de dificuldades transgênicas, 
já que também respiro o mesmo ar junto 
as dificuldades individuais, 
que também há na coletividade. 
E as melhorias particulares, 
também há em alguém, 
um significado restrito
aos portadores de compreensão e bom senso, 
que buscam no baú de promessas,  
a razão de sonhar, fazer acontecer, conquistar e vencer.

Sentei na desilusão e desamarrei
amarguras esmorecidas. 
E atavio sustentando a minha paciência 
na convivência imposta pelo vento, 
que leva os meus versos de lírios afagando viagens. 
Na convivência imposta pela terra prensada,  
que orienta os meus passos 
com seu magnetismo de “pés do chão”, 
sem jamais prender a minha aspiração,  
a sobrevoar nuvens em meu azul sem acasos, 
um lugar incomum frente ao brilho do sol, 
refletindo em meu sorriso
o amor escrito em meu parnaso.

Encontro mundo distantes 
e realidade terrena. 
Encontro sonhos perdidos 
e uma única flor chamada “tudo vale a pena”. 
Encontrei a constelação 
onde a poesia de meus pensamentos 
sorri sobre o Pégasus de meu perfume, 
levando o meu amor como oferenda. 
E encontro em meu livre ser, 
a vontade de amar em cada olhar somente meu.

Minha mente livre. 
Meu coração vive. 
A emoção nunca é a mesma, pois nunca a contive. 
A razão sempre navegará
no celeste equilíbrio 
fascinado pelas palavras simples 
que falam de verdades fingindo poesias. 
Um paraíso formado pelos traços 
de um menino aprendiz nos canteiros 
brotando à magia 
em se construir uma vida. 
Desprendida pelo brilho afável
em cada escrita 
na vontade que eu tenho, mas não é sempre fácil. 
A quaisquer horas dessas,  
deixarei o meu lápis sem vida. 
Parece um desafio constante em cada 
contorno sem saber
se haverá um novo dia. 
Sem saber se escrevo agora
ou calo-me para sempre,  
se realmente for esse o propósito 
de uma mente que ora traduz 
um cavalo alado, 
alforriado e apaixonado 
procurando pequenas razões
para continuar motivado.
(Carlos Junior)

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